quinta-feira, 19 de junho de 2008

Exército dos Estados Unidos adota o ‘Ultimate Fighting’

Eis uma matéria "chupinhada" do jornal americano The New York Times.
Resumidamente a matéria diz que para treinar seus soldados em situação de combate corpo-a-corpo, introduziram o UFC como forma de melhorar a condição dos soldados e estimular o recrutamento, a ponto que criarem campeonatos internos, inclusive com a presença de astros do UFC como Tito Ortiz.
Para quem gosta da leitura completa:

Soldado é inspecionado antes de entrar no ringue do ultimate fighting em Fort Bragg  _ Foto Uol

por Michael Brick
na Carolina do Norte (EUA)
para o The New York Times

As forças armadas dos Estados Unidos estão adotando um esporte de combate comumente conhecido como “ultimate fighting” que, apenas uma década atrás, era chamado de briga de galos humana, sendo proibido na maioria dos lugares.

O esporte, também conhecido como artes marciais mistas -envolvendo técnicas como jiu-jitsu, boxe e luta-livre- adotou medidas de segurança que satisfizeram os reguladores da maioria dos Estados norte-americanos. A sua popularidade cresce vertiginosamente, especialmente entre os homens jovens.

No último sábado, um torneio do gênero foi transmito pela primeira vez ao vivo, em horário nobre, por uma rede de televisão. As forças armadas, reconhecendo o fenômeno e suas características demográficas, está utilizando o esporte não só como forma de criar moral e ajudar no recrutamento, mas também como auxílio para o treinamento e aperfeiçoamento das habilidades dos soldados antes que eles sigam para o combate.

Para estimular as tropas, os líderes militares receberam de braços abertos lutadores profissionais que têm nomes como Ace (”Ás”) e Huntington Beach Bad Boy (”Garoto problema de Huntington Beach”). O exército realiza grandes torneios entre os soldados. Em um artigo de opinião na revista “Army Times”, no ano passado, o major Kelly Crigger pediu aos comandantes que organizassem uma equipe de lutadores que aparecesse na televisão no Ultimate Fighting Championship (UFC), a principal liga profissional deste tipo de luta.

“Muitos dos expectadores são potenciais recrutas”, argumentou Crigger.
“O UFC constitui-se em um grande veículo para inserir o nome do exército nas mentes de milhões de jovens norte-americanos”.

Nas forças armadas, a adoção do ultimate fighting ocorre com certa reserva. A ênfase do esporte na glória solitária vai de encontro aos recentes esforços do exército para modificar o tema de recrutamento, do desenvolvimento individual (”Seja Tudo Aquilo Que Você Pode Ser; Exército de Um Indivíduo) para a unidade do grupo (Exército Forte; Entre Para o Exército).

Mas à medida que o esporte cativava os expectadores em canais dirigidos para jovens, os recrutadores e sargentos encarregados do treinamento dos recrutas passaram a prestar atenção no fenômeno.

Em 2006, oficiais da Estação Aérea do Corpo de Fuzileiros Navais em Miramar, na Califórnia, convidaram o lutador do UFC Tito Ortiz, que é apresenta-se como Huntington Beach Bad Boy, para participar do baile de aniversário da base como convidado de honra. O jornal “Marine Times”
recebeu cartas de protesto contra a iniciativa, mas o convite só foi cancelado quando Bad Boy indicou que planejava casar-se com a sua namorada, a atriz pornô Jenna Jameson.

Rich Franklin, o ex-campeão peso-médio do UFC, conhecido como Ace, visita freqüentemente bases dos fuzileiros navais. No ano passado, Matt Hughes, um ex-campeão do UFC na categoria peso-meio-médio, foi aplaudido durante a sua visita a Fort Benning, uma base do exército na Geórgia.

Sem nenhum arranjo formal, as forças armadas também produziram lutadores para as ligas profissionais. Brian Stann, o campeão da categoria peso meio-pesado do World Extreme Cagefighting -competição em que o ringue fechado lembra uma gaiola- lutou no Iraque com os fuzileiros. Em novembro do ano passado, um fuzileiro naval chamado Will Thiery foi promovido na classificação em um torneio na Flórida denominado “Salute to Our Armed Forces” (algo como “Preste Continência às Nossas Forças Armadas”). O sargento James Damien Stelly, que intrega o corpo de Rangers do exército, tendo cumprido três missões no Afeganistão, participou de várias lutas profissionais.

Os promotores procuram capitalizar o interesse geral pelo esporte. Em abril, o Cassino Harrah, em Tunica, Mississipi, promoveu uma noite de luta chamada “Soldados contra Profissionais”.

“Temos uma organização como o Exército dos Estados Unidos, que nas nossas mentes personifica os esportes combativos nos quais estamos envolvidos”, diz C.J. Comu, organizador do evento. “Este é o perfil dos fãs do esporte: indivíduos do sexo masculino de 18 a 30 anos”.

Dentro das forças armadas, os oficiais têm procurado aplicações práticas para esse tipo de luta. Em 2002, o exército publicou uma nova seção do manual de campo sobre técnicas de artes marciais mistas. O seu autor, Matthew C. Larsen, diretor do Programa de Técnicas Combativas do Exército Moderno, considera a competição um poderoso fator de motivação.

“Enquanto abraçamos os nossos valores e aquilo que o exército defende, que é sermos guerreiros, a questão é, que tipo de guerreiros?”, diz Larsen, que quando era um jovem fuzileiro naval serviu em Tóquio e conquistou várias faixas pretas. “O jogo das artes marciais mistas é exatamente isto, um jogo. Mas o jogo pode ser um treinamento para a
realidade”.

Larsen tem promovido o seu programa com cautela, reconhecendo que um foco excessivo na competição poderia treinar os soldados para vencer competições, e não as batalhas. Mas a natureza mutante da guerra moderna, especialmente quando é travada em corredores apertados de casas iraquianas, ajudou-o na sua argumentação.

ultimate-fighting.jpg

“Esses caras podem se encontrar em qualquer situação, de uma batalha de vida ou morte com um mau elemento à tentativa de subjugar um cidadão que sofre de síndrome de Estocolmo, uma pessoa que não desejaríamos machucar”, diz Larsen. “Temos que contar com todos estes golpes e movimentos para essas situações diferentes”.

Atualmente, bases do exército em todo o país realizam torneios de artes marciais mistas, mandando os vencedores para um campeonato de decisão em Fort Benning. O quarto campeonato anual, marcado para outubro, foi planejado de forma a incorporar, pela primeira vez, regras avançadas que não se distinguem daquelas utilizadas nas artes marciais mistas. As regras, que permitem socos de punho fechado na cabeça e joelhadas, ainda proíbem golpes considerados perigosos, exibicionistas ou inefetivos no campo de batalha, como cotoveladas, mordidas e dedadas nos olhos.

Em janeiro, a Força Aérea adotou o programa. A Marinha treinou algumas unidades. E o Corpo de Fuzileiros Navais treina recrutas em artes marciais desde 2000, com menos ênfase em competição.

Existem diversas ligas profissionais de ultimate fighting em todo o mundo, e a maioria adotou regras desde a era em que valia tudo, quando o derramamento de sangue era comum, e o senador John McCain, republicano pelo Arizona e candidato do seu partido à presidência, chamou o esporte de briga de galos humana. As regras diferem de uma liga para outra, mas a maioria dos lutadores usa luvas abertas para manter os dedos livres, e os golpes contra certas partes do corpo são proibidos.

À medida que as competições militares de artes marciais mistas foram ganhando popularidade, os torneios passaram a lembrar situações de luta real. Depois do primeiro campeonato do exército em 2005, comandantes em Fort Knox permitiram que os soldados lutassem em uma gaiola de aço de dois metros de altura. Larsen tem procurado organizar um torneio em Bagdá para ser transmitido pelo canal “ESPN”.

Aqui em Cape Fear Valey, na Carolina do Norte, os soldados da 82ª Divisão Aerotransportada realizaram um torneio na semana passada, quando boatos sobre novas missões de combate disseminaram-se pela base. Dentre os 259 homens e nove mulheres que participaram, muitos sabiam que não estariam disponíveis para competir no campeonato geral do exército em outubro.

Os soldados pareciam ansiosos para testar as suas habilidades. A cabo Melissa Jenkins, 20, de Union City, Indiana, preferiu confrontar homens no torneio de luta do que jogar futebol, correr e participar de vários outros esportes. Ela esforçou-se bastante, mas foi eliminada no início da competição, quando as regras tradicionais de luta-livre vigoravam. As regras das artes marciais mistas foram relaxadas durante as semi-finais.

“Eu sabia que seria difícil”, disse Jenkins. “Ele era muito mais forte do que eu, de forma que eu já esperava não ser a favorita”.

O diretor do torneio, sargento Jeff Yurk, que participou de torneios de artes marciais em San Diego antes de ingressar no exército, impõe regras esportivas rigorosas. Ele não perde tempo em encerrar uma luta quando um dos lutadores não consegue mais se defender.

“Lidamos com muitos daqueles caras que acabaram de sair da escola secundária e querem fazer parte de algo. É aqui que as artes marciais mistas e o exército atraem o mesmo grupo demográfico”, explica Yurk.

Mas entrar no ringue é a mesma coisa que entrar por uma porta no Iraque, sabendo que há um cara mal intencionado lá dentro, mas mesmo assim seguir em frente”.

Um dos participantes do torneio foi Carl Miller, um peso meio-pesado.
Ele retornou de uma missão no Iraque em março, e preferiu treinar para as lutas do que tirar folga. Ele pretende ganhar fama no campeonato geral do exército, ser admitido para aulas de treinamento de alto nível e tornar-se instrutor de artes marciais.

“É um jogo mental”, diz ele. “Se eu puder fazer isto, ficarei 20 anos no exército”.

Tradução: UOL

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